Cinismo e hipocrisia, deem um tempo!
Jorge Portugal, de Salvador (BA)
Há dias, caiu o ministro Orlando Silva, dos Esportes e do PCdoB.
Antes, cinco ministros outros haviam caído, sob a mesma alegação. E
outros mais ainda cairão, se a mídia investigativa quiser e a
presidente Dilma aceitar a dança.
Não importa o partido, a trajetória,
a legitimidade popular, nada. E se a imprensa desejar, com fôlego
redobrado, e "atitude cívica" contumaz, caem todos do congresso,
cassados, e grande parte do judiciário também.
Muito simples: o sistema eleitoral brasileiro é a origem de toda a
corrupção e contamina, com seu dedo podre, todos aqueles que se
aventurem por essa atividade da vida nacional.
a legitimidade popular, nada. E se a imprensa desejar, com fôlego
redobrado, e "atitude cívica" contumaz, caem todos do congresso,
cassados, e grande parte do judiciário também.
Muito simples: o sistema eleitoral brasileiro é a origem de toda a
corrupção e contamina, com seu dedo podre, todos aqueles que se
aventurem por essa atividade da vida nacional.
A Constituição de 1988, criando esse nosso presidencialismo mitigado,
em que o presidente não tem força definidora e o parlamento manda
muito, praticamente "forçou a barra" de um novo caminho para as
eleições, a obrigação irrecusável de constituírem-se maiorias que
garantam a "governabilidade" do esquema política da vez. E isso passou
a custar dinheiro. Muito dinheiro!
em que o presidente não tem força definidora e o parlamento manda
muito, praticamente "forçou a barra" de um novo caminho para as
eleições, a obrigação irrecusável de constituírem-se maiorias que
garantam a "governabilidade" do esquema política da vez. E isso passou
a custar dinheiro. Muito dinheiro!
Não que antes uma graninha não rolasse no processo. Para imprimir os
"santinhos", colocar o combustível nas Kombis que iam "caçar" eleitor
no dia da votação, pagar uns caraminguás ao cabo eleitoral que
garantiu os votos da família e dos amigos, enfim o varejo das
campanhas dentro de um sistema capitalista que nada faz sem dinheiro.
De uns 25 anos pra cá, no entanto, a coisa mudou de tom e de valor.
Numa eleição para deputado federal, o candidato precisa de fazer
várias "dobradinhas" com candidatos às assembléias legislativas que,
por sua vez, não raro, se apoiam em prefeitos, que mantêm conexões
básicas com vereadores, que precisam sempre "agradar" seus eleitores.
Estes, por acharem que "político é ladrão" e tendo aí a oportunidade
de "tirar algum" do larápio graúdo, vende seu voto de acordo com sua
importância: liderança de bairro, cabo eleitoral da cidade, chefe de
família grande, etc. É muito dinheiro girando. E é assim para todos os
cargos.
Numa eleição para deputado federal, o candidato precisa de fazer
várias "dobradinhas" com candidatos às assembléias legislativas que,
por sua vez, não raro, se apoiam em prefeitos, que mantêm conexões
básicas com vereadores, que precisam sempre "agradar" seus eleitores.
Estes, por acharem que "político é ladrão" e tendo aí a oportunidade
de "tirar algum" do larápio graúdo, vende seu voto de acordo com sua
importância: liderança de bairro, cabo eleitoral da cidade, chefe de
família grande, etc. É muito dinheiro girando. E é assim para todos os
cargos.
E aí entram os financiadores, com destaque para as grandes
empreiteiras. De olho nos grandes negócios a serem feitos com o
governo federal, aproximam-se dos candidatos e/ou partidos e abrem,
generosamente, os cofres para "ajudar" as campanhas, pedindo em troca,
apenas, a alma e o voto. Partidos ou candidatos menos contemplados
pelo grande dinheiro dessas empresas, uma vez com a mão num naco de
poder, inventam ONGs amigas pelas quais drenar a grana alimentadora da
próxima campanha. Um dia, os "varões de Plutarco" da Veja ou da Folha
descobrem um esquema e a casa do pobre coitado cai. Escândalo
nacional! Políticos corruptos! Indignação nas ruas e na tela da TV.
Passado o clamor, chega o momento do judiciário e os tais "bandidos de
toga", segundo a corregedora Eliana Calmon, levarem o seu.
Proscrastinar e até anular o processo de um corrupto endinheirado
custa caríssimo!
O Brasil virou refém desse esquema e poucos têm interesse em mudá-lo.
Quem aí que me lê toparia lutar por um sistema eleitoral que banisse o
dinheiro privado das eleições? Se não começar por aí, é cinismo e
hipocrisia de quem nada quer mudar.
Jorge Portugal é educador, poeta e apresentador de TV. Idealizou e
apresenta o programa "Tô Sabendo", da TV Brasil.

