Seja qual for o resultado da reforma eleitoral que está emperrada no Congresso Nacional, um fato continuará sendo consenso entre políticos, marqueteiros e estudiosos: as redes sociais terão papel decisivo no pleito de 2018, quando acontecerá a primeira eleição geral sem financiamento privado de campanha.
Com a perspectiva de campanhas mais enxutas, sem consenso sobre criação de um fundo de R$ 3,6 bilhões para financiar candidatos, o assunto já até é objeto de projetos de lei, como a proposta do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) que tenta extinguir o horário eleitoral na TV, tornando a internet o principal palco para a barganha por votos.
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Nesse caso, explica o democrata, a isenção fiscal que as emissoras de televisão recebem por exibirem propagandas políticas, estimada em cerca de R$ 1 bilhão para o ano que vem pela ONG Contas Abertas, seriam destinados para as campanhas, diminuindo o uso de dinheiro público nas eleições.
"Nada tem causado mais desigualdade para o processo político do que o horário eleitoral", avalia Caiado, criticando coligações feitas em razão do tempo nas rádios e na TV. "Virou um comércio. E muitas vezes um marqueteiro com todos os truques e recursos mostra um candidato falso", afirma.
Como alternativa, o senador defende justamente a internet, "um grande espaço de discussões políticas".
Supervalorização
Diretor de planejamento da Leiaute Propaganda, empresa responsável pela comunicação do governo da Bahia e da qual saíram os profissionais que pensaram a campanha do governador Rui Costa (PT) em 2014, o publicitário João Dude avalia como "precoce" o que chama de "supervalorização" das redes sociais.
O governador Rui Costa (PT) aposta em mostrar o lado mais descontraído na rede (Imagem: Reprodução)
Para ele, que também enxerga a internet como "a nova praça onde os assuntos são discutidos", existem, ainda, empecilhos para que a plataforma domine as campanhas.
"Nosso país é muito díspare, então ainda há quem não tenha sinal de internet, não tenha tanto acesso à ferramenta, e falta maturidade para lidar com informações falsas disseminadas nesses espaços", acredita.
Dude defende, entretanto, que, a partir das redes digitais, os políticos conseguem "identificar os interesses das pessoas e criar abordagens diferentes para os vários públicos".
"O político não muda, o que ele é não dá para mudar, mas as abordagens são diferentes, sobretudo em um período em que haverá resistência aos políticos, porque a opinião pública está indócil", afirma o publicitário, pregando "uma maneira de atuar muito mais leve" para a comunicação nas redes. "Agora o esquema é saber fazer para conquistar o público, ouvir o que a população quer e levar propostas nesses ambientes".
Marqueteiro do DEM e responsável pela campanha vitoriosa do prefeito ACM Neto (DEM), o jornalista Pascoal Gomes acredita que a potencialização do uso das redes sociais na política não tem relação com a falta de dinheiro para campanhas.
Gomes, que acha "muito cedo para falar de 2018", defende as mídias digitais como "o quinto poder". "A imprensa é o quarto poder e a rede social seria o quinto, pela potência que é", diz.
Apontando a notícias falsas e os ataques à honra dos candidatos como lado negativo da questão, ele explica que o uso da ferramenta só funciona se for verossímil. "Tem que ter conteúdo, precisa ter uma história para contar que as pessoas acreditem", avalia o netista.
"As discussões sobre temas relevantes acontecem ali", diz ele, definindo o aplicativo de mensagem instantânea WhatsApp como "o instrumento mais eficaz de guerrilha". "Eu disse que seria assim em 2014 e foi".
É por meio dessa ferramenta específica, analisam tanto João Dude quanto Pascoal Gomes, que é possível disseminar informações mais rápido entre simpatizantes. Ambos citam, ainda, o presidente norte-americano Donald Trump, que usa as redes sociais como porta-voz dos seus discursos políticos. "O Trump governa pelo Twitter", diz Pascoal.
PARA ESTUDIOSO, CAMPANHAS FORA DA WEB NÃO TERÃO IMPACTO
Professor da Faculdade de Comunicação da Ufba e estudioso dos efeitos sociais das tecnologias digitais, Wilson Gomes avalia que, para as próximas eleições, “as coordenações de campanha não poderão mais ignorar as mídias sociais ou considerá-las secundárias ou acessórias, apostando suas fichas na televisão”.
Para o pesquisador, “o mundo centrado na televisão tem encontrado, enfim, depois de um ciclo que começou nos anos 1960, um desafiante à altura”.
É nos ambientes digitais – que ele define como “ambientes de convivência, arena de discussão política e atrito de pensamento” – que, segundo Gomes, o eleitor faz suas escolhas, atualmente. Por isso, analisa ele, “não há a menor possibilidade de que venham a ser ignorados pelas campanhas políticas se elas quiserem ter realmente impacto social”.
“As pessoas consomem informação política (de boa ou de péssima qualidade) cada vez mais online, discutem política cada vez mais por meios digitais, escolhem os seus líderes de opinião encontrando-os cada vez mais nas redes sociais digitais e estabelecem suas afinidades políticas e ideológicas crescentemente em ambientes digitais”, constata.