Com a definição no dia 2 de outubro de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual mandatário Jair Bolsonaro (PL) iriam se enfrentar no segundo turno das eleições presidenciais, o debate público passou a ser inundado de acusações, ilações e falas descontextualizadas de ambos os candidatos ao cargo de chefe do Executivo. Se na eleição anterior, parte dos eleitores de direita passaram a compartilhar notícias falsas para gerar medo nos eleitores e direcionar uma votação em massa a um lado, neste ano o embate encontra-se, surpreendentemente equilibrado. O entorno dos dois candidatos aproveitam-se dos sentimentos primitivos do eleitorado e compartilham imagens e vídeos de seu desafeto, em falas, visitas e posicionamentos antigos, para impactar o brasileiro que irá às urnas no dia 30 de outubro para eleger o próximo presidente. De pautas morais a maçonaria, de aproximação com o crime organizado a práticas canibais, tudo vale para aumentar a rejeição do adversário. Quem perde com isso é o eleitor, que espera ver um debate das ideias para votar em um projeto de país e não é impactado com discursos propositivos. O site da Jovem Pan realizou um levantamento com as principais acusações realizadas desde o início do segundo turno presidencial e conversou com especialistas para entender o cenário político atual e compreender de que maneira, a duas semanas da eleição mais importantes da história do Brasil, o debate público se afastou dos projetos e abraçou o enredo acusatório.
Alvo das maiores notícias falsas nas eleições de 2018, a esquerda passou a compreender e operar o sistema de disseminação de desinformação nas redes sociais e, desde o início do segundo turno das eleições presidenciais, iniciou uma ofensiva contra o presidente Jair Bolsonaro, que busca a reeleição. Poucos dias após a definição de que o candidato do PL iria enfrentar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), conteúdos sobre o atual chefe do Executivo que já encontravam-se nas redes sociais e em sites de vídeo passaram a ser compartilhados novamente por eleitores do petista para afastar o eleitorado católico e evangélico do atual governo. É o caso da visita de Bolsonaro a uma loja maçônica, que ocorreu em 2017. Na ocasião, o então deputado federal buscava solidificar seu nome como candidato à presidência da Republica e passou a viajar pelo país apresentando-se ao eleitorado. Em uma destas reuniões, Bolsonaro compareceu a uma loja da maçonaria e falou aos presentes: “Temos tudo para sermos uma grande nação. Às vezes, olhamos para países pequenos que nada têm, e são destaques no mundo. Nós, com todo potencial que temos, devemos muito para chegar próximo dessas nações. Não estou candidato a nada. Há dois anos e meio, resolvi andar pelo Brasil e sair da zona de conforto”. No dia 5 de outubro, porém, ao realizar uma transmissão ao vivo em suas redes sociais, o presidente Jair Bolsonaro confirmou a veracidade do vídeo e minimizou possíveis polêmicas quanto a sua visita no templo da maçonaria. “Pessoal me criticando porque fui em loja maçom em 2017. Fui sim, fui em loja maçom, acho que foi a única vez que eu fui numa loja maçom. Eu era candidato a presidente, pouca gente sabia, e um colega falou ‘vamos lá’ e eu fui. Acho que foi aqui em Brasília. Fui muito bem recebido. […] Fui de novo? Não fui. Agora, sou presidente de todos. Isso agora a esquerda faz estardalhaço. O que tenho contra maçom? Tenho nada”, disse o chefe do Executivo.
A tentativa da esquerda de atrelar o nome do presidente Jair Bolsonaro à maçonaria é uma tentativa de atingir a sua confiança com a população religiosa, principalmente a evangélica. A primeira pesquisa realizada pelo instituto Datafolha após o início do segundo turno presidencial mostrou que o atual mandatário tem o dobro do eleitorado evangélico a seu favor, com 62% desta parcela da sociedade que prefere o atual governo contra 31% que enxergam a alternativa petista como melhor opção. O movimento ocorre baseado na controvérsia da maçonaria para os cristãos. No site oficial do Vaticano é possível encontrar uma carta do Papa Leão XIII, de 1884, em que a Igreja Católica já condena a ligação da sociedade civil com a maçonaria. No documento, o pontífice julga que “a seita da maçonaria mostra-se insolente e orgulhosa de seu sucesso, e parece que ela não colocará limites à sua pertinácia” e que “seus seguidores, ajuntados por perversos acordos e por conselhos secretos, ajudam-se uns aos outros, e excitam-se uns aos outros a uma audácia nas coisas malignas”. Personalidades evangélicas aliadas ao presidente Bolsonaro, como os pastores Silas Malafaia e André Valadão, já haviam se pronunciado na internet em oportunidades anteriores condenando a aproximação dos fiéis com a maçonaria. jovempan